domingo, 25 de outubro de 2009

Mergulhadores de Combate da Marinha do Brasil

Embarcados no navio Tambaú, perto da Ilha Grande, os alunos “05″ e “10″, os únicos que não pediram para sair dos 15 que entraram no curso de formação do Grupamento de Mergulhadores de Combate da Marinha (Grumec), aguardam, vestidos, o início de mais um exercício de guerra.


Faz frio, mas ali só sobrevive quem resiste a tudo. “Água!”, ordena, assim que pisa no barco, o comandante Michael Aguiar. Prontamente, os alunos se jogam no mar, de roupa e tudo, como mostra a reportagem de Túlio Brandão neste domingo.


Pode parecer exagero aos olhos de um civil, mas Aguiar, coordenador do curso de unidade de operações especiais militares mais longo do Brasil e admirado até pelo temido Batalhão de Operações Especiais (Bope), sabe que situações de guerra são incomparavelmente piores.


Não à toa, o currículo do curso, que dura nove meses, inclui nado de cem metros com mãos e pés amarrados e, na mesma fase, dez quilômetros de natação em mar aberto equipado com minas para explodir cascos, fuzis e todo o aparato de um combatente.


Peneira costuma eliminar até atletas da Marinha


Em terra, nada é mais fácil: na chamada “semana do inferno”, os alunos se tornam prisioneiros de um campo de concentração e são submetidos a uma tensão extrema e à exaustão física.


- Ser de operações especiais é não desistir diante dos obstáculos. É necessário um autocontrole enorme. A metodologia prevê situações de tensão, como a pressão sobre um aluno, tentando provocar a sua desistência.


Ficamos com aqueles que suportam, que são capazes de resistir a tudo. Esses estão preparados para situações que encontramos em missões – diz Aguiar, deixando claro que não se excede. – O curso exige rigidez, mas rigidez não é abuso.


A peneira costuma eliminar até mesmo atletas da Marinha, que suportariam o estresse físico sem problemas. Já houve edições em que ninguém chegou ao fim. Iniciado há 35 anos, o curso formou até hoje apenas 192 mergulhadores de combate.


Desses, há cerca de 50 ativos, em simulações de guerra ou em missões em áreas de fronteira e na chamada Amazônia Azul – nome dado pelos militares à extensa faixa de mar pertencente ao Brasil. Em tempos de pré-sal, o grupamento se torna ainda mais importante.


- Somos a única unidade de ações especiais capaz de retomar uma plataforma de petróleo em poder de algum inimigo – diz o capitão-tenente do Grumec André Teixeira.


A ameaça não é tão distante. A Petrobras chegou a produzir um comercial em que os mergulhadores de combate invadem uma plataforma cheia de sequestradores e reconquistam o território, mas ele acabou não sendo veiculado.


O Bope reconhece a força dos mergulhadores de combate. Rodrigo Pimentel, ex-capitão do batalhão e autor do livro que deu origem ao sucesso “Tropa de Elite”, rasga elogios aos colegas da Marinha:


- Eles têm um diferencial de mergulho, muito claustrofóbico, além de serem formados em guerra de selva, paraquedismo e outras especialidades. Talvez seja a formação mais completa de um curso de unidades especiais. Temos uma admiração grande por eles.


Muito longe dessas discussões, “05″ e “10″ estavam prontos para o exercício de guerra. A missão, acompanhada pelo GLOBO, consistia em montar um bote em cima do submarino Tupi, navegar amarrado ao periscópio da embarcação à noite, remar até uma determinada distância da costa da Ilha Grande, nadar equipado e, perto da praia, mergulhar para invadir a enseada de Provetá.


De lá, os alunos seguiriam por uma trilha na mata, durante a madrugada, até a enseada do Sítio Forte. Ali, disfarçados de civis, pegariam carona num barco pesqueiro até o ponto onde estava um caiaque militar, para remar até um estaleiro e destruir o dique em que estava sendo construído um submarino nuclear inimigo.


A “faina”, nome dado pelos militares a qualquer atividade ou missão, deu certo. Eles ainda não concluíram o curso, mas podem festejar por já terem passado pelas piores fases. “05″, que fora dali é conhecido como o segundo-sargento Cacildo de Araújo, tem 34 anos.


Em 2006, foi reprovado nos testes de apneia dinâmica. Quis tentar de novo este ano, mas o limite de idade o impedia. Apelou, então, ao Comando da Marinha, que acabou mudando o limite de idade por causa de Cacildo.