quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O PLANO DE DILMA PARA EVITAR REBELIÃO NA COPA

Planalto pedirá ajuda ao CNJ para fazer um pente-fino nos presídios dos estados que sediarão partidas do Mundial de futebol.
O governo federal vai pedir ajuda ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para evitar uma onda de rebeliões nos presídios do país durante a Copa do Mundo de 2014, o que pode colocar em risco os planos de reeleição da presidente Dilma Rousseff. A ideia é fazer um pente-fino nos presídios instalados nas 12 cidades sedes que receberão os jogos das 32 seleções e os turistas que estarão no Brasil para torcer pelos seus respectivos países. Dilma sabe que a explosão da violência em um período estratégico colocará em xeque a capacidade do Executivo federal de controlar o sistema carcerário nacional.
A presidente ainda tem claro na mente o desastre provocado em sua popularidade após as manifestações de junho do ano passado, durante a Copa das Confederações. A aprovação do governo derreteu do patamar de 57% para 30%. O governo sabe que as passeatas de junho foram na busca de maior qualidade nos serviços públicos e que, tirando a ação extremada dos black blocs, não houve grandes tragédias do ponto de vista de perdas de vidas.
Rebeliões em presídio geram uma impressão ainda mais impactante. Dilma ficou assustada com a brutalidade na crise ocorrida no presídio de Pedrinhas, em São Luís, quando uma briga entre facções terminou com quatro detentos mortos — três deles decapitados — e o alastramento de uma onda de violência pelas ruas da capital maranhense que terminou na morte da menina Ana Clara, vítima de um ônibus incendiado a mando dos líderes da rebelião. “Se o vídeo com os presos decapitados tivesse circulado durante os jogos da Copa, a repercussão negativa para o país seria infinitamente maior”, reconhece um aliado da presidente.
Segundo apurou o Correio, Dilma já teria, inclusive, manifestado a ideia ao presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa. O Conselho Nacional de Justiça é responsável pelos mutirões carcerários que levantam os problemas dos presídios brasileiros e apontam soluções para diminuir a pressão nas cadeias do país. A parceria emergencial aconteceria nas 12 sedes dos jogos: Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo. O trabalho poderia se estender a outras capitais, mas, como o prazo é exíguo, a atenção será total para as regiões que devem receber o maior número de turistas estrangeiros no meio do ano.
Dilma está obcecada com a segurança nos jogos da Copa. Ela sabe que os erros e as tragédias que porventura acontecerem serão debitados diretamente na conta do governo federal, o que pode trazer prejuízos eleitorais na disputa de outubro. Aliados do governo avaliam que a autoestima do brasileiro com a realização dos jogos será afetada diretamente na medida em que a Copa do Mundo traga transtorno, decepção ou uma sensação de aumento de insegurança no país. O Brasil já enfrenta dificuldades nas obras de mobilidade, deve enfrentar nova onda de manifestações nas ruas durante os jogos e tenta evitar novas crises para administrar.
No fim do ano passado, quando a Polícia Civil de São Paulo desencadeou uma investigação destrinchando a estrutura hierárquica e o modus operandi do Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção criminosa do país avisou que “não haveria Copa do Mundo”. Pelas informações recebidas até o momento pelo governo federal, o que aconteceu em Pedrinhas (MA) não tem qualquer relação com a articulação planejada pelo PCC. Seria resultado da briga de grupos rivais, algo que, por conta da superlotação, transforma os presídios brasileiros em um foco constante de tensões.
Os levantamentos já feitos pelo CNJ nas unidades prisionais das cidades sedes mostram que a tardia preocupação do governo procede. O Amazonas, por exemplo, estado do qual as seleções reclamam do calor, os presídios estão sendo acusados de desrespeito aos direitos humanos, mesma crítica feita ao Presídio Central de Porto Alegre, que, inclusive, está sendo questionado pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
No Ceará, uma rebelião recente no município de Itaitinga provocou a fuga de três criminosos que participaram do assalto do Banco Central. Em Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Distrito Federal e Pernambuco, a superlotação aumenta os riscos de motins. No Rio de Janeiro, onde será realizada a final da Copa do Mundo, os presos estão amontoados nas delegacias. Em São Paulo, que sediará a partida de abertura, além da ascensão do PCC no sistema, existem problemas de atendimentos à saúde. E, no Rio Grande do Norte, rebeliões recentes terminaram com presos decapitados, bem antes das cenas de barbárie ocorridas em Pedrinhas.
Para o coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Ignácio Cano, o pente-fino não resolverá os problemas do sistema, mas mostram que as rebeliões surtem o efeito. “A sociedade só se preocupa com os presídios quando existem motins. É válido tudo o que puder ser feito para diminuir a superlotação e retirar presos que não deveriam mais estar nas cadeias”, completou Cano.
Os problemas detectados
Confira as falhas identificadas nos estados que sediarão partidas da Copa do Mundo:
Amazonas
Os presídios amazonenses são apontados como centros de desrespeito aos direitos humanos. Em um deles, os detentos ficam em celas localizadas no subsolo. Durante os fins de semana, por problemas na escala de agentes carcerários, o presídio ficava trancado, sem responsáveis, e os presos só podiam voltar a circular na segunda-feira.
Bahia
A terceirização e privatização do sistema carcerário não resolveram os problemas de superlotação e maus-tratos aos detentos.
Ceará
Fuga de presos é uma constante. Recentemente, no município de Itaitinga, uma rebelião acarretou na fuga de três criminosos que participaram do assalto ao Banco Central, em Fortaleza.
Distrito Federal
Principal problema é o deficit de vagas.
Mato Grosso
A superlotação é um dos maiores problemas, sobretudo nos presídios de Cuiabá.
Minas Gerais
Embora com menos intensidade, o estado sofre com a superlotação nos presídios.
Paraná
O estado formou um grupo de secretarias para acompanhar os presídios, que sofrem com denúncias de superlotação e maus-tratos.
Pernambuco
A superlotação é um dos principais problemas, sobretudo no presídio Aníbal Bruno, que tem 5 mil detentos.
Rio de Janeiro
Superlotação de presos, sobretudo nas delegacias de polícia.
Rio Grande do Norte
Rebeliões recentes também terminaram com presos decapitados.
Rio Grande do Sul
O Presídio Central de Porto Alegre responde a um questionamento da Organização dos Estados Americanos (OEA) por violação dos direitos humanos.
São Paulo

O estado representa quase 40% da população carcerária. Superlotação, brigas de facções e problemas de atendimento à saúde dos detentos.
Fonte-correiobraziliense